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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Ah! Como eu gostaria...
que não tivesse existido

Último dia do ano
Ah! Como eu gostaria...

Nossos vizinhos com a casa cheia de amigos e familiares. E, eu me sinto sem vontade alguma de levantar-me e ir ter com eles.

Ah! Como eu gostaria...
que este dia fosse diferente

Nas mãos estou com os 2 livros My Social Book impressos... ambos relatam um história pelo Caminho. Uma história em que escancaro a minha Alma aos meus amigos. Deixo que vejam as loucuras de alguém marcado pela Morte neste Caminho de volta pra Casa do Pai.

Reli as primeiras 15 páginas. Lágrimas brotam nos olhos e escorrem pelo rosto... conectadas à Dor e ao Vazio que trago no peito.

Segunda Impressão em 12/12/2015

Primeira Impressão em 26/12/2014

Neste ano...
pouco escrevi depois de 04/JULHO
(25 meses)

Depois dessa data, corri e afundei-me no trabalho, distraindo-me de tal sorte... que pareci ser um cara de sorte. Mas, nas idas e vindas dessa atividade frenética que foi este 2º.Semestre... sempre me vi com um Vazio na Alma que tantas vezes parecia ser maior que a própria Alma.

Ah! Como eu gostaria...
que este dia fosse diferente

Tento me agarrar às minhas memórias... mas, elas parecem dormir. Tento buscar meus textos e eles teimam em esconder-se atrás de uma comunicação interrompida com a nuvem dos aplicativos e dos blogs.

Fico observando a capa do livro que recebemos esta semana... um livro que relata o Vazio além de expressar as Vozes pelo Caminho, sejam através de flores, de sons, de amigos... ou simplesmente percebendo nas entrelinhas o cuidado do Eterno.

Cuidado do Eterno!

Ah! Como eu gostaria...
que todos nós revisitássemos nossos conceitos

Me sinto acovardado e completamente impotente diante de um turbilhão de pensamentos, ideias e conceitos quebrados, desconstruídos... apenas escombros cinzentos.

Me sinto diante do Eterno que deixa Sua Respiração presenciar o meu próprio desencanto, meu desalento, minha solidão. Solidão? Sim, solidão... me sinto empurrado para um canto, longe de tudo e de todos.

Desci do trem.

E ele passa em alta velocidade, sinto seu rastro de vento levando junto consigo minhas distrações e me faz perceber que estou só. Mas... eu preciso olhar mesmo pra dentro de mim. Quero me lembrar... lembrar de um tempo onde jamais imaginei que ficaria só.

Ah! Como seria hoje...
se não tivesse existido 04/06/2013?

Eu com certeza olharia para essa pergunta e abriria o maior sorriso... abriria meus braços com toda a elasticidade e com todas as minhas forças correria ao seu encontro e a abraçaria como nunca a abracei. A esmagaria de amor entre meus braços contra o meu peito e a cobriria de beijos.

Se eu pudesse olhar mais uma vez para você... depois daquele último olhar, quando nossos olhares mais uma vez se encontraram depois de nos despedirmos... você fora do jeep, em pé na calçada, um olhar meigo.

Ah! meu Deus...
porque eu não percebi
que seria o último olhar da minha filha 

Como eu gostaria de ter percebido isso naquela hora... e, não ter me afastado dela.


Ah! Como eu gostaria...

.

sábado, 4 de julho de 2015

25 meses...
amigos que me suportam

Dia frio e que gela minha alma quando abro os olhos logo pela manhã e sei que você não virá para nos ajudar... que saudade minha filha, 25 meses que não recebo um abraço apertado seu.

Hoje ao final do dia... com amigos reunidos antes da nossa última refeição, depois de um longo dia de muito trabalho, muito suor, muito amor, muito apoio e muita vida... agradeci assim:


Emanoel, Raquel, Dirce, Débora e Aline
Fábio, Lia, Catarina, Mary, Ton, André, Amanda, eu e Abigail
Daniel, Davi, Samuel, Walace, Ricardo e Rosana
Samuel (pai), Artur, Paulo, André, Nen, Victória e Mateus
Lucas no selfie...


25 meses...

Cada dia que tenho vivido tem um sabor diferente, pois é sempre um sabor de mistura... uma mistura de vários sabores, tons, sons e imagens que percorrem meu coração e minha alma.

Cada dia que tenho vivido nasce com imagens que me inspiram e que conspiram nos corredores do meu coração e da minha alma... corredores onde estão pendurados quadros que representam alegria e tristeza.

É interessante, pois por mais de 5 décadas andando pelos corredores da minha alma, os quadros pendurados sempre trazem alegria e sonhos... mas, nos quadros pendurados nestes últimos 25 meses há sempre uma mistura de matizes e às vezes em muitos deles a alegria parece dar o tom... mas, jamais está brilhando como tantas vezes vi a alegria brilhar.

Nos últimos 25 meses, os quadros que vão se pendurando no corredor que tem sempre a presença da ausência, que tem sempre um vazio que permanece... nesses dias todos, meus quadros jamais brilharam como antes.

E, não importa o que se estampa nesses quadros, há sempre a presença da tristeza que reflete uma dor sem tamanho... ou melhor, de uma dor do tamanho do peito.


não há superação, 
não há página virada, 
não há dias melhores...

Hoje é muito bom celebrar a vida eterna... ter cada um de vocês comigo, com a Débora, com os meninos e as meninas que se achegaram à nossa família... é muito bom pintar um novo quadro pra colocar em um lugar de destaque no corredor do meu coração e da minha alma.

Um belo quadro, não quero esquecer nunca o rosto e a expressão de carinho, de amor, de graça e de misericórdia que cada um de vocês expressa a cada um de nós... um belo quadro que deixa expresso através de tanta água, tons pastéis como a mistura de cores de um universo criado pra ser Eterno.

Nesse quadro estará cada um de vocês que caminha conosco, que constrói nossa história e que deixa que nossa história escreva a história de vocês... e, hoje pintaremos juntos esse quadro, que somos todos nós, que vemos juntos a materialização de um sonho, que faremos juntos uma história... a história do Veleiro Gabí.

E, por falar em sonho, hoje reli uma página do meu diário de bordo de um sonho que nasceu na última viagem internacional que fizemos com a Gabí... e, está registrado o seguinte:


Marco inicial da minha jornada. Tempo de planejar, de sonhar, de estudar, de avaliar... tempo de gestar meu sonho.
E, para começar nada como abrir o notebook, clicar no explorer e pesquisar no google sobre Veleiros, mais especificamente sobre Construção Caseira de Veleiros.
Vários links apareceram e comecei minha peregrinação pelas páginas de vários blogs, li sobre sonhos realizados e vários desses relatos ecoaram no meu coração e na minha alma.
É possível... tantos outros fizeram.
Os assuntos foram abrindo-se rapidamente. Já eram vários na minha organização das pastas em favoritos. Construção, Blogs, Notícias, Roteiros, Segurança, Equipamentos, Marinas e Charters.
Um mundo se abria à minha frente e uma certeza no meu coração... é possível. Vou seguir meu caminho, vou velejar por mares jamais percorridos no meu coração. Vou dar “ventos à minha imaginação”...

E, aqui estamos 1238 dias depois do dia 13/02/2012... nesse dia eu não tinha me apercebido estar começando a registrar uma história que também se iniciava num dia 13... e, que se materializa no Veleiro Gabí.

Obrigado amigos e amigas, muitos de vocês nascidos no meu coração como filhos e filhas. E, outros que caminham ao meu lado e que cuidam com tanto carinho de mim e da minha família. 

Muito obrigado por gastarem suas horas, suas forças e esbanjarem seus sorrisos conosco em tantos dias, mas especialmente hoje em que juntos construímos a base para que horas, suor e alguns materiais se transformem no Veleiro Gabí.


Amo muito cada um de vocês que gastaram seu dia comigo... e, com o Veleiro Gabí.

Muito Obrigado Débora, Paulo, Vera, Samuel, Gislaine, Ricardo, Rosana, Daniel, Carlos Henrique, Guto, Cibelle, Ton, Mirinha, Artur, Sheila, Aline, Ulisses, Gabriel, Heber, Alessandra, Marquinho, João, Pedro, Walace, Telma, Dirce, Samuel (pai), Raquel, Emanoel, Mary, André (da Mary), Lucas, Nanda (via Skype), Amanda, André (da Amanda), Abigail, Gustavo, Flavinha, Daniel (na barriga), Lia, Fábio, Manuela, Catarina, Victória, Mateus, Rafaela, Davi, Nen, tia Beth, tia Irany, Solange, Emília, Euro, Gabriel e Isabela.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Quando penso em você...
e na sua partida


vazio
há tantos vazios
mas, há vazio que não se preenche

Fagner

Quando penso em você
Fecho os olhos de saudade

você está nos meus pensamentos todo dia, em tudo que vejo ou que vivencio, nos momentos vividos, nas lembranças que brotam das minhas entranhas...

na expressão carinhosa da sua mãe, nos meninos afoitos em seus afazeres, com seus amores e que correm entre os canteiros da vida...

mas, hoje o aperto no peito é muito maior, a dor parece que vai me arrebentar por dentro, parece que o Vazio cresce e inunda completamente minha vida, minha alma, meu coração, meu tudo...

acordei pensando em você, olhos fechados e você nas imagens que correm pelos meus pensamentos, olhos abertos e falta você, falta você, falta você...

há 2 anos você partiu para sempre jogando-se no colo do Eterno, e Ele a acolheu...


Tenho tido muita coisa
Menos a felicidade

desde que me entendo por gente, felicidade era algo pra se buscar, algo que valia a pena correr riscos, algo que valia a pena permanecer no Caminho...

felicidade seria um estado de alma, seria a contemplação do belo, seria a introjeção da feliz idade dentro de nós mesmos, seria, seria...

lampejos de felicidade é o mesmo que menos felicidade, é saber que no meio desses lampejos e também por serem lampejos de felicidade...

há a ausência da total felicidade, pois no meio, entremeado, engastado e engasgado está a tristeza que advém...

de uma partida madura
de uma partida pré-madura
de uma partida prematura... 

Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento

dedos longos, 
dedos curtos, 
dedos médios, 
dedos todos...

versos, textos, palavras e letras...
letras, palavras, textos e versos...
todos tristes, toscos e tristes, tocos tristes...

invento?

[in]vento, pra dentro do vento que sopra por onde quer, não vejo de onde vem, não o vejo quando chega, nem tampouco quando se vai...

no vento e com versos tristes derramo minha alma que já não escorre, mas goteja lentamente nas lágrimas carregadas de tristeza com lampejos de felicidade, por isso parecem brilhar... 

Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento

nem isto nem aquilo...

na distração pareço absorto, transpareço superação, passos lentos, passos que enganam, passos nisto e naquilo...

gasto tempo lento que rápido passa e já não contem as dores e o vazio que transpassam como o vento arrastando fora o contentamento, esvaindo-se...

con-tente-[e]-mente
con-tente-[a]-mente
com saudade tento seguir
com a mente que mente e não resiste
ri... e, depois chora!

Pode ser até manhã
Cedo, claro, feito o dia

manhã de sol, 
manhã nublada, 
manhã de chuva, 
manhã de frio, 
manhã ou amanhã...

nasce o dia e morre a noite,
chega a noite e parte o dia,
parte ao dia,
parte que é parte de mim,
parte pra sempre num dia há 2 anos...

cedo, claro, feito no dia em que partiu...

Mas nada do que me dizem
Me faz sentir alegria

nada e tudo
nada e tudo me faz
nada sente nem tudo faz
apenas parece ser

sorrir e rir parecem
sorrir e rir aparecem
ir e vir também parecem
ir sem vir... nem voltar!

nasce e não morre um buraco que é vazio
nasce e não morre a falta que aparece
nasce e não morre a tristeza mesmo entremeada... ... com lampejos de alegria

sorrir e rir parecem
serenidade e controle aparentam
mas, não faz sentir alegria
nada do que dizem produz o que se foi pra sempre... 

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa

gosto de saudades
mato e não morro
gosto de saudades
não mato e morro

framboesa, groselha, mirtilo
morango, acerola, amora
qualquer gosto
todo gosto, agosto, ao gosto, sem gosto...

felicidade é também fel-ic(soluço)-idade

do mato, pro mato
no mato sem cachorro
um pouco sozinho!


Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza

ela baila por todo lado
ela brinca em-todo-lado
ela corre entre os canteiros
ela não deixa esconder...

ela planta lágrimas
ela desnuda
ela desbunda
ela não deixa esconder...


E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida

dizem deixa disso
dizem há moços
dizem há mulher
dizem haverá equilíbrio
dizem entre bens e males, sobra bens
dizem segue a vida

dizem deixa disso
dizem...


Pois senão chega a morte
Ou coisa parecida
E nos arrasta moço
Sem ter visto a vida

eu vi a vida
eu vi a morte
não há coisa parecida que arrebente mais

eu vi a vida
eu vi a morte
e ela nos arrasta moço ou velho
e ela nos arrasta mesmo vendo a vida


É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho

é o Vazio...
é a proa onde falta alguém!


É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

é o Vazio na voz de um amigo...
é o pesar
é o deleite
é o Vento no Mar!


São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida em nosso coração

às vezes as águas de março chegam em junho
atrasadas?
adiantadas... muito adiantadas e prematuras.

os dias são menos claros
as noites são menos escuras
pois, no menos há vida em nosso vazio coração!

menos felicidade não significa infelicidade
até porque [in]felicidade é ir pra dentro dela
e nela, nessa felicidade... também é fel-ic-idade

assim é o Caminho
na manjedoura apartado
na mesa amparado
na cruz arrebentado

e, depois... esperançado!
mas, só depois...

por ora... [in]certezas!


domingo, 24 de maio de 2015

Cabeça de Velho...
anuncia sua partida

Seria um sonho?
Teria sido um sonho?
Pensei teria sido um sonho?
Acordei pensando teria sido um sonho?

Mas, não foi...

E, a Cabeça de Velho anuncia que o dia de sua partida mais uma vez está chegando, dói saber que você não chegará com ele... jamais!


cabeça de velho florida... é chegada a partida!
Sentado no seu Memorial Gabí observo...
... a bougainville rosa subindo por um dos pilares e começando a cobrir o Gazebo, trazendo sombra e tornando agradável balançar mesmo que o sol esteja forte
um dos cantos do Gazebo sendo tomado pela bougainville rosa
logo logo trará boa sombra e balançar no sol será muito mais agradável
... vários pássaros se achegando em busca de algumas migalhas ou algum pequeno inseto ou invertebrado para se alimentar. Vieram vários anus brancos... e, depois outras espécies foram se achegando. 

Entre esses movimentos, os belos movimentos de borboletas coloridas num balé angelical à minha frente, umas muito pequenininhas, branquinhas... outras maiores com várias cores.

Meus olhos iam e vinham, lágrimas brotavam escorrendo pela face... e, sempre à minha frente a Cabeça de Velho embranquecendo, ressaltando no meio de outras plantas... anunciando: dia 4 de junho está chegando mais uma vez.

No entanto, o Eterno que nem vai nem vem, esse mesmo Eterno que permanece para sempre... aconchega-se no meu colo ficando tão perto do meu coração...


Lis
uma princesinha tão perto do meu coração
...trazendo uma alegria sem tamanho e sem medida que equilibra a saudade e me ajuda a caminhar pelo jardim no final do dia.

Hoje na virada do dia, passeei pelo nosso jardim... muitas lembranças!


Agave abrindo-se totalmente ao calor do Sol que ameaça ir embora
Sapatinho de Judia... reluzindo belo e formoso
Araucaria que vinga e mostra que o friozinho daqui é muito bom
Bougainville se desmanchando em bouquets
ao final da florada, várias folhas já perdem o colorido
mas, nunca a beleza... parecem folhas de palha transparentes

... e, depois de andar entre várias plantas, flores e árvores... criei coragem e cheguei perto daquela que é o símbolo eterno de um amor singelo, frágil e maravilhoso.


Embaúba plantada pela Gabí e Gustavo selando seu amor
Deparei-me com uma árvore com cerca de 2,5 metros de altura, dois galhos em forma de V cheios de folhas bonitas, mas ainda tão pequenas.


o sonho da Gabí: venham muitos pássaros ao nosso jardim
Ao final da tarde, a brisa gelada vai chegando aos poucos à medida que o Sol vai se escondendo, dando lugar a uma Lua que é um barquinho na imensidão do nosso céu azul, ainda claro.

As estrelas mais potentes vão surgindo aos poucos... já é hora de entrar, me aquecer... mesmo sabendo que meu coração jamais se aquecerá completamente. Impossível deixar de pensar em você, de desejar encontra-la novamente, de abraça-la mais uma vez.

Filhotas estiveram conosco neste final de semana, cada uma delas parece trazer algo seu, cada abraço apertado traz a lembrança de seus abraços apertados.

A noite vai chegando e a Lua brilha os corredores da minha Alma Vazia... um aperto apertado no meio do peito parece esmagar minha esperança e algumas lembranças se esvaem sem deixar marcas... mas, outras continuam impressas a fogo e jamais deixarão de existir.

Saudades, saudades, muitas saudades!

domingo, 10 de maio de 2015

Tributo à Mãe...
que sofre pelo Caminho

"Minha dor...
Eu não consigo compreender
Eu quero algo pra beber
Me deixe aqui pode sair." - Vander Lee

Vejo pelo Caminho muitas mães... muitas são Alegria-Sem-Fim e isso é muito bom. Mas, hoje gostaria muito de prestar um Tributo às Mães... 

... Mães que sofrem pelo Caminho.


Maria acompanhando a crucificação de Seu Filho
“E uma espada transpassará a tua alma.” (Lc 2:35)

Vejo pelo Caminho pessoas que homenageiam e levantam tributos de Alegria, que são expressões com os mais variados motivos, mas sempre exaltam àquelas que já transbordam de muita Alegria... e, não poucas são as vezes que nos esquecemos de tantas outras Mães...

... Mães que sofrem pelo Caminho.

"Deixa eu chorar até cansar
Me leve pra qualquer lugar
Aonde Deus possa me ouvir." - Vander Lee 

Nesta semana, uma dessas Mães me abraçou ternamente, seu semblante estava triste, apesar de saber que os lampejos de alegria estão presentes e são reais... seus olhos, seu olhar, seu rosto e seu abraço trouxeram à minha alma uma comoção tão grande, senti a dor que ia na sua alma transferir-se repentinamente à minha alma. 

Retribuí seu carinho com um abraço longo e apertado, abraço que solidarizou-se às suas expressões de quem também convivia com o Vazio em sua alma... impactado, comovido e esbarrando-me pelos corredores vazios da Alma, fui para o trabalho.

... Mães que sofrem pelo Caminho.


"Sair chegar lá fora e encontrar alguém
Que não me dissesse nada
Não me perguntasse nada também
Que me oferecesse um colo ou um ombro
Onde eu desaguasse todo desengano" - Vander Lee 


São tantas as Mães que sofrem, comecei a pensar nelas, imaginando que esses sofrimentos se intensificam à medida que a mídia expõe a Alegria de ser Mãe, trazendo para si uma multidão de Mães que a Alegria-Sem-Fim e encurralando na escuridão de suas próprias almas uma multidão muito maior de Mães em que a Alegria são apenas lampejos e outra infinidade que de fato a Alegria já não existe mais.


Mães que...
perderam seus filhos
foram abandonadas por seus filhos
tiveram seus filhos arrancados de si
não puderam ter filhos
seus filhos estão presos
seus filhos estão arrebentados pelas drogas
tem seus filhos perdidos
choram por seus filhos
sonham com filhos
não podem tocar seus filhos
não podem ver seus filhos
lamentam por seus filhos
sentem a ausência de seus filhos
raptaram seus filhos
estão esquecidas por seus filhos
mataram seus filhos
enlouqueceram por seus filhos
mães que sofrem...
que sofrem...
sofrem...

Enquanto uma a uma iam desfilando pela minha Alma, minhas lágrimas brotavam nos meus olhos e essa dor, esse sofrimento foi me massacrando... fui massacrado por alguns minutos. 

E, essas Mães que são massacradas dia-após-dia, que dor!

Será que temos espaço em nossos círculos sociais para essas Mães?... ou rapidamente queremos torna-las Mães Alegres... mas, alegrar-se sem seus filhos?


Ter Mãe é muito diferente de Ser Mãe!

Ter Mãe tem olhar focado a partir de fora, é um filho que tem mãe ou é uma filha que tem mãe... mas, Ser Mãe é o olhar de dentro, é o sentimento de dentro direcionado a você, filho e filha!

Há dores doídas e doidas demais, para que rapidamente possamos garantir que isso passa, que tudo passará... 

À você Mãe que sofre
meu tributo neste dia que
além de ser o Dia das Mães 
das Mães Alegria-Sem-Fim
é também o seu Dia!


Dia das Mães-Que-Sofrem, 
que embalam braços esvaziados!


Débora, Mãe da minha filha Gabriela e dos meus filhos Mateus e Davi. Torna-la Mãe foi uma das melhores Graças que eu recebi... hoje é um dia reservado para que você seja VOCÊ! Mãe para sempre! 

Conviver com o Cheio e o Vazio é muito mais difícil do que podíamos imaginar e será sempre assim enquanto estivermos deste lado do Rio... 

É uma mistura de sentimentos, mas sentimentos são mesmos misturados, pois a Vida é uma mistura de tons...

Meu desejo é que seu dia seja leve... que a Dor não a maltrate tanto, que o Sabor dos nossos filhos e a Saudade da nossa filha permeiem suavemente como o voo das borboletas.


Amamos muito você! 


PS: Na letra e na música de Vander Lee, também interpretada por Gal Costa... deixei-me levar pelos sentimentos que afloram no coração de Mães que sofrem, Mães que embalam braços esvaziados.

sábado, 2 de maio de 2015

Quem sou eu?...
este ou aquele?

Reunião de família.
Celebração.
Alegria.
Mas, faltava você... dor no peito da gente!

Café da manhã, papo solto, conversas em dia, preparativos para o almoço, detalhes em cada coisa feita com carinho e disposição de servir.

Enquanto isso, um poema de Dietrich Bonhoeffer não me saía da alma... a todo instante suas perguntas sem resposta ou com respostas paradoxais, tanto na estruturação, no comportamento quanto na expressão da própria face inundaram meus pensamentos... e, me fizeram calar.

Sou este?
Calmo, alegre e firme.
Fala livre, amistoso e claro.
Calmo, sorridente e alegre.

Ou sou aquele?
Inquieto, saudoso e doente.
Tremendo, impotente e amigos distantes.
Cansado e vazio ao orar, ao pensar e ao agir.


sou este ou aquele?
ou os dois ao mesmo tempo?

Palavras fogem dos meus lábios. 
Sorriso relutante em escapar pela face.
Lágrimas dançam nos olhos com medo de escorrer.
Afinal, é tempo de alegrar-se.

Há um turbilhão de sentimentos a cada momento, em cada olhar... voltar à casa paterna onde sempre nos reunimos para celebrar a felicidade... desta vez, esse encontro me traz tantas outras lembranças. Lembranças que teimam em calar minha voz e meu sorriso.

Lembranças de um tempo que o sorriso dançava solto, leve e livre. 

Lembranças dos gritos de crianças felizes correndo pelos cômodos e corredores. 

Lembranças dos olhares dos primos e primas que nem sempre se viam, mas que pareciam ver-se sempre. 

Lembranças...


"Alguém sentado à beira do caminho, jamais entenderá o que é que eu sinto agora. Sou levado pelo movimento que tua falta faz." Fagner em Retrovisor

Paradoxalmente às lembranças, a dor que entra na vida da gente, que entra pela porta da frente arrebentando-a de tal forma que é impossível simplesmente trocar as dobradiças, fechaduras, trancas ou trocar a própria porta... simplesmente quando ela vem e destrói as suas últimas crenças que a vida poderia ser... apenas feliz.

Quando a dor entra na vida da gente... passamos a entender melhor a dor do outro, a entender que a desgraça faz mesmo parte do nosso Caminho. 

Aproveitar os momentos bons, pois os maus momentos também farão parte da nossa vida nos ajuda a caminhar sem crendices, mas com fé... fé que traz [in]certezas.


"Nada faz sentido. Sinto um grande vazio. Aquele que está em busca concluiu que nada faz o mínimo sentido." Eclesiastes 12:8

Além disso, também passo a entender, que há dores que duram a vida toda, dores que seguirão conosco até o último suspiro.

Como a dor e o vazio que acompanharam Dietrich até o fim. Dor que doeu até o fim. Olho para sua vida e seus escritos e tento imaginar essas dores, frustrações, dúvidas, incertezas e angústias... 

E, que do fundo de sua alma doída expressaram-se num poema com uma profundidade tão grande como a dor que ele sentiu, sentia e conviveu com ela até estar em pé à frente de seu algoz executor.

Ao longo do almoço de celebração, diante de tantos sentimentos e emoções incoerentes, paradoxais e tantas vezes ambíguos... posso exclamar como ele: 

Tu sabes, ó Deus, que sou Teu!


Dietrich Bonhoeffer
teólogo protestante alemão
1906 - 1945


Wer Bin Ich? 


Quem sou eu? Freqüentemente me dizem
Que saí da confinação da minha cela
De modo calmo, alegre, firme,
Como um cavalheiro da sua mansão.


Quem sou eu? Freqüentemente me dizem
Que falava com meus guardas
De modo livre, amistoso e claro
Como se fossem meus para comandar.

Quem sou eu? Dizem-me também
Que suportei os dias de infortúnio
De modo calmo, sorridente e alegre
Como quem está acostumado a vencer.


Sou, então, realmente tudo aquilo 
que os outros me dizem?
Ou sou apenas aquilo que sei 
acerca de mim mesmo?


Inquieto e saudoso e doente, como ave na gaiola,
Lutando pelo fôlego, como se houvesse mãos apertando minha garganta,
Ansiando por cores, por flores, pelas vozes das aves,
Sedento por palavras de bondade, de boa vizinhança
Conturbado na expectativa de grandes eventos,
Tremendo, impotente, 
por amigos a uma distância infinita,
Cansado e vazio ao orar, ao pensar, ao agir,
Desmaiando, 
e pronto para dizer adeus a tudo isto?

Quem sou eu? Este, ou o outro?
Sou uma pessoa hoje, e outra amanhã?

Sou as duas ao mesmo tempo? 
Um hipócrita diante dos outros,
E diante de mim, um fraco, 
desprezivelmente angustiado?
Ou há alguma coisa ainda em mim 
como exército derrotado,
Fugindo em debanda da vitória já alcançada?

Quem sou eu? 
Estas minhas perguntas zombam de mim na solidão.
Seja quem for eu, 
Tu sabes, ó Deus, que sou Teu!


Dietrich Bonhoeffer foi um grande teólogo protestante alemão, considerado um dos mais relevantes do século XX. Perseguido e aprisionado pelo nazismo, foi enviado a um campo de concentração, onde foi executado, já em fins da Segunda Guerra.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Estou vivo...
3 grandes impactos

No Caminho de volta pra Casa do Eterno às vezes estou mais atento, parece que estou prestes a encontrar Algo... parece que os ouvidos da minha alma se aguçam e percebem os sinais e rumores de outro mundo. 

Hoje foi assim... 
ouvi I'm Alive interpretada por Celine Dion.

À medida que a melodia, a voz e as palavras adentravam minha alma, impactou-me de 3 maneiras fortes, firmes e absolutamente reais.

Impacto UM

When you call on me
When I hear you breathe
I get wings to fly
I feel that I'm alive


saudades filha... ouço você me chamar!

filha, quando você me chama, quando eu ouço seu respirar, eu ganho asas para voar, 
eu sinto que eu estou vivo

filha, que saudades eu sinto... 
e, por sentir tanta saudade assim, 
eu sei que eu estou vivo

filha que dor eu sinto...
e, essa dor me esmaga, 
é um sinal que eu estou vivo

filha, você me faz tanta falta... 
e, quantas vezes ouço você me chamar, ouço ao longe como se estive ouvindo bem perto, ouço quase nada ouvindo, mas percebo seu respirar, sinto o aroma da sua pele, me derreto ao seu sorriso... e, me apaixono por suas questões tão intensamente vividas e vivenciadas por você.

filha, ouvir essa música na voz maravilhosa da Celine Dion, cantora que você gostava tanto, me traz lembranças tão intensamente gravadas na minha alma e que hoje reverberam numa velocidade alucinante... tão alucinante como é insana a dor que sinto cada dia.

filha, hoje enquanto ouvia essa música mais uma vez, uma amiga curtiu uma postagem de quase 2 anos atrás sobre uma conversa que havíamos vivenciado e você faz um relato lindo, descrevendo sua própria humanidade.

filha, essa mesma amiga também curtiu uma das minhas reflexões sobre a relevância da dor da sua ausência entre nós na esteira da reflexão de Henri Nouwen na dor da ausência da sua mãe, pois as dores verdadeiras não se curam com o tempo. 


"É falso pensar que o passar do tempo nos fará esquecê-las pouco a pouco e apagará a nossa dor. Se o tempo tiver que fazer alguma coisa, será no sentido de aprofundar a nossa dor" Henri Nouwen em Uma Carta de Consolação.

Impacto DOIS


When you look at me
I can touch the sky
I know that I'm alive

amor do meu Caminho, quando você olha para mim, eu posso tocar o céu,
eu sei que eu estou vivo

amor, viver com você, vivenciar experiências com você, viajar com você apreciando os jardins que encontramos pelo Caminho, vivenciar as dores e as alegrias com você,
eu sei que eu estou vivo

amor, nosso último final de semana juntos adentrou minha alma, olhar e contemplar belos jardins imaginando nossa filha apaixonando-se por cada um dos detalhes desse ambiente, olhar com o seu olhar, olhar no seu olhar e seu olhar no meu olhar, compartilhar e comungar com você, 
é um sinal que eu estou vivo

amor, viver junto com você tantos momentos diferentes e viver as privações pelo Caminho nos selaram para sempre,
enquanto sei que eu estou vivo

amor, cada detalhe que compartilhamos em Inhotim ficarão gravados para sempre, cada espécie que encontramos pelo Caminho e nos maravilhamos com as cores, a beleza e a singeleza vieram para dentro de nós,
e nos fizeram mais vivos




olhar de contemplação do meu amor no jardim em Inhotim

Impacto TRÊS


When you blessed the day
I just drift away
All my worries die
I'm glad that I'm alive

pai, quando você abençoa o dia, todas as minhas preocupações morrem,
e eu me alegro por eu estar vivo

pai, há um mistério na vida eterna que me fascina, há [in]certezas na minha fé ao caminhar na Sua Direção, há também certezas... e, uma delas é que você não vem nem vai, você permanece para sempre e isso garante,
que eu estou vivo e viverei eternamente

pai, há uma mistura de emoções e de sentimentos na minha alma a cada passo, a cada olhar... há uma mistura de pensamentos... há uma insana tensão na busca de respostas... mas, no meio desse turbilhão que tantas vezes me assola, também percebo com clareza sua benção e com isso minhas loucuras se esvaem, minha alma se apazígua e meu coração bate como alguém...
alguém que está vivo   


é bom escancarar meu coração doído... a você, Pai!

Tudo isso e muito mais vai me impactando pelo Caminho... e, algumas imagens ficarão para sempre gravadas na minha alma da beleza e do Seu Cuidado para comigo.

Caminhando...
... com você (filha amada) no coração, 
... lado-a-lado com você (Débora, meu amor)
... passo-a-passo em Você (Pai Eterno)























Foi bom...
Até breve Inhotim.



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