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domingo, 24 de maio de 2015

Cabeça de Velho...
anuncia sua partida

Seria um sonho?
Teria sido um sonho?
Pensei teria sido um sonho?
Acordei pensando teria sido um sonho?

Mas, não foi...

E, a Cabeça de Velho anuncia que o dia de sua partida mais uma vez está chegando, dói saber que você não chegará com ele... jamais!


cabeça de velho florida... é chegada a partida!
Sentado no seu Memorial Gabí observo...
... a bougainville rosa subindo por um dos pilares e começando a cobrir o Gazebo, trazendo sombra e tornando agradável balançar mesmo que o sol esteja forte
um dos cantos do Gazebo sendo tomado pela bougainville rosa
logo logo trará boa sombra e balançar no sol será muito mais agradável
... vários pássaros se achegando em busca de algumas migalhas ou algum pequeno inseto ou invertebrado para se alimentar. Vieram vários anus brancos... e, depois outras espécies foram se achegando. 

Entre esses movimentos, os belos movimentos de borboletas coloridas num balé angelical à minha frente, umas muito pequenininhas, branquinhas... outras maiores com várias cores.

Meus olhos iam e vinham, lágrimas brotavam escorrendo pela face... e, sempre à minha frente a Cabeça de Velho embranquecendo, ressaltando no meio de outras plantas... anunciando: dia 4 de junho está chegando mais uma vez.

No entanto, o Eterno que nem vai nem vem, esse mesmo Eterno que permanece para sempre... aconchega-se no meu colo ficando tão perto do meu coração...


Lis
uma princesinha tão perto do meu coração
...trazendo uma alegria sem tamanho e sem medida que equilibra a saudade e me ajuda a caminhar pelo jardim no final do dia.

Hoje na virada do dia, passeei pelo nosso jardim... muitas lembranças!


Agave abrindo-se totalmente ao calor do Sol que ameaça ir embora
Sapatinho de Judia... reluzindo belo e formoso
Araucaria que vinga e mostra que o friozinho daqui é muito bom
Bougainville se desmanchando em bouquets
ao final da florada, várias folhas já perdem o colorido
mas, nunca a beleza... parecem folhas de palha transparentes

... e, depois de andar entre várias plantas, flores e árvores... criei coragem e cheguei perto daquela que é o símbolo eterno de um amor singelo, frágil e maravilhoso.


Embaúba plantada pela Gabí e Gustavo selando seu amor
Deparei-me com uma árvore com cerca de 2,5 metros de altura, dois galhos em forma de V cheios de folhas bonitas, mas ainda tão pequenas.


o sonho da Gabí: venham muitos pássaros ao nosso jardim
Ao final da tarde, a brisa gelada vai chegando aos poucos à medida que o Sol vai se escondendo, dando lugar a uma Lua que é um barquinho na imensidão do nosso céu azul, ainda claro.

As estrelas mais potentes vão surgindo aos poucos... já é hora de entrar, me aquecer... mesmo sabendo que meu coração jamais se aquecerá completamente. Impossível deixar de pensar em você, de desejar encontra-la novamente, de abraça-la mais uma vez.

Filhotas estiveram conosco neste final de semana, cada uma delas parece trazer algo seu, cada abraço apertado traz a lembrança de seus abraços apertados.

A noite vai chegando e a Lua brilha os corredores da minha Alma Vazia... um aperto apertado no meio do peito parece esmagar minha esperança e algumas lembranças se esvaem sem deixar marcas... mas, outras continuam impressas a fogo e jamais deixarão de existir.

Saudades, saudades, muitas saudades!

domingo, 10 de maio de 2015

Tributo à Mãe...
que sofre pelo Caminho

"Minha dor...
Eu não consigo compreender
Eu quero algo pra beber
Me deixe aqui pode sair." - Vander Lee

Vejo pelo Caminho muitas mães... muitas são Alegria-Sem-Fim e isso é muito bom. Mas, hoje gostaria muito de prestar um Tributo às Mães... 

... Mães que sofrem pelo Caminho.


Maria acompanhando a crucificação de Seu Filho
“E uma espada transpassará a tua alma.” (Lc 2:35)

Vejo pelo Caminho pessoas que homenageiam e levantam tributos de Alegria, que são expressões com os mais variados motivos, mas sempre exaltam àquelas que já transbordam de muita Alegria... e, não poucas são as vezes que nos esquecemos de tantas outras Mães...

... Mães que sofrem pelo Caminho.

"Deixa eu chorar até cansar
Me leve pra qualquer lugar
Aonde Deus possa me ouvir." - Vander Lee 

Nesta semana, uma dessas Mães me abraçou ternamente, seu semblante estava triste, apesar de saber que os lampejos de alegria estão presentes e são reais... seus olhos, seu olhar, seu rosto e seu abraço trouxeram à minha alma uma comoção tão grande, senti a dor que ia na sua alma transferir-se repentinamente à minha alma. 

Retribuí seu carinho com um abraço longo e apertado, abraço que solidarizou-se às suas expressões de quem também convivia com o Vazio em sua alma... impactado, comovido e esbarrando-me pelos corredores vazios da Alma, fui para o trabalho.

... Mães que sofrem pelo Caminho.


"Sair chegar lá fora e encontrar alguém
Que não me dissesse nada
Não me perguntasse nada também
Que me oferecesse um colo ou um ombro
Onde eu desaguasse todo desengano" - Vander Lee 


São tantas as Mães que sofrem, comecei a pensar nelas, imaginando que esses sofrimentos se intensificam à medida que a mídia expõe a Alegria de ser Mãe, trazendo para si uma multidão de Mães que a Alegria-Sem-Fim e encurralando na escuridão de suas próprias almas uma multidão muito maior de Mães em que a Alegria são apenas lampejos e outra infinidade que de fato a Alegria já não existe mais.


Mães que...
perderam seus filhos
foram abandonadas por seus filhos
tiveram seus filhos arrancados de si
não puderam ter filhos
seus filhos estão presos
seus filhos estão arrebentados pelas drogas
tem seus filhos perdidos
choram por seus filhos
sonham com filhos
não podem tocar seus filhos
não podem ver seus filhos
lamentam por seus filhos
sentem a ausência de seus filhos
raptaram seus filhos
estão esquecidas por seus filhos
mataram seus filhos
enlouqueceram por seus filhos
mães que sofrem...
que sofrem...
sofrem...

Enquanto uma a uma iam desfilando pela minha Alma, minhas lágrimas brotavam nos meus olhos e essa dor, esse sofrimento foi me massacrando... fui massacrado por alguns minutos. 

E, essas Mães que são massacradas dia-após-dia, que dor!

Será que temos espaço em nossos círculos sociais para essas Mães?... ou rapidamente queremos torna-las Mães Alegres... mas, alegrar-se sem seus filhos?


Ter Mãe é muito diferente de Ser Mãe!

Ter Mãe tem olhar focado a partir de fora, é um filho que tem mãe ou é uma filha que tem mãe... mas, Ser Mãe é o olhar de dentro, é o sentimento de dentro direcionado a você, filho e filha!

Há dores doídas e doidas demais, para que rapidamente possamos garantir que isso passa, que tudo passará... 

À você Mãe que sofre
meu tributo neste dia que
além de ser o Dia das Mães 
das Mães Alegria-Sem-Fim
é também o seu Dia!


Dia das Mães-Que-Sofrem, 
que embalam braços esvaziados!


Débora, Mãe da minha filha Gabriela e dos meus filhos Mateus e Davi. Torna-la Mãe foi uma das melhores Graças que eu recebi... hoje é um dia reservado para que você seja VOCÊ! Mãe para sempre! 

Conviver com o Cheio e o Vazio é muito mais difícil do que podíamos imaginar e será sempre assim enquanto estivermos deste lado do Rio... 

É uma mistura de sentimentos, mas sentimentos são mesmos misturados, pois a Vida é uma mistura de tons...

Meu desejo é que seu dia seja leve... que a Dor não a maltrate tanto, que o Sabor dos nossos filhos e a Saudade da nossa filha permeiem suavemente como o voo das borboletas.


Amamos muito você! 


PS: Na letra e na música de Vander Lee, também interpretada por Gal Costa... deixei-me levar pelos sentimentos que afloram no coração de Mães que sofrem, Mães que embalam braços esvaziados.

sábado, 2 de maio de 2015

Quem sou eu?...
este ou aquele?

Reunião de família.
Celebração.
Alegria.
Mas, faltava você... dor no peito da gente!

Café da manhã, papo solto, conversas em dia, preparativos para o almoço, detalhes em cada coisa feita com carinho e disposição de servir.

Enquanto isso, um poema de Dietrich Bonhoeffer não me saía da alma... a todo instante suas perguntas sem resposta ou com respostas paradoxais, tanto na estruturação, no comportamento quanto na expressão da própria face inundaram meus pensamentos... e, me fizeram calar.

Sou este?
Calmo, alegre e firme.
Fala livre, amistoso e claro.
Calmo, sorridente e alegre.

Ou sou aquele?
Inquieto, saudoso e doente.
Tremendo, impotente e amigos distantes.
Cansado e vazio ao orar, ao pensar e ao agir.


sou este ou aquele?
ou os dois ao mesmo tempo?

Palavras fogem dos meus lábios. 
Sorriso relutante em escapar pela face.
Lágrimas dançam nos olhos com medo de escorrer.
Afinal, é tempo de alegrar-se.

Há um turbilhão de sentimentos a cada momento, em cada olhar... voltar à casa paterna onde sempre nos reunimos para celebrar a felicidade... desta vez, esse encontro me traz tantas outras lembranças. Lembranças que teimam em calar minha voz e meu sorriso.

Lembranças de um tempo que o sorriso dançava solto, leve e livre. 

Lembranças dos gritos de crianças felizes correndo pelos cômodos e corredores. 

Lembranças dos olhares dos primos e primas que nem sempre se viam, mas que pareciam ver-se sempre. 

Lembranças...


"Alguém sentado à beira do caminho, jamais entenderá o que é que eu sinto agora. Sou levado pelo movimento que tua falta faz." Fagner em Retrovisor

Paradoxalmente às lembranças, a dor que entra na vida da gente, que entra pela porta da frente arrebentando-a de tal forma que é impossível simplesmente trocar as dobradiças, fechaduras, trancas ou trocar a própria porta... simplesmente quando ela vem e destrói as suas últimas crenças que a vida poderia ser... apenas feliz.

Quando a dor entra na vida da gente... passamos a entender melhor a dor do outro, a entender que a desgraça faz mesmo parte do nosso Caminho. 

Aproveitar os momentos bons, pois os maus momentos também farão parte da nossa vida nos ajuda a caminhar sem crendices, mas com fé... fé que traz [in]certezas.


"Nada faz sentido. Sinto um grande vazio. Aquele que está em busca concluiu que nada faz o mínimo sentido." Eclesiastes 12:8

Além disso, também passo a entender, que há dores que duram a vida toda, dores que seguirão conosco até o último suspiro.

Como a dor e o vazio que acompanharam Dietrich até o fim. Dor que doeu até o fim. Olho para sua vida e seus escritos e tento imaginar essas dores, frustrações, dúvidas, incertezas e angústias... 

E, que do fundo de sua alma doída expressaram-se num poema com uma profundidade tão grande como a dor que ele sentiu, sentia e conviveu com ela até estar em pé à frente de seu algoz executor.

Ao longo do almoço de celebração, diante de tantos sentimentos e emoções incoerentes, paradoxais e tantas vezes ambíguos... posso exclamar como ele: 

Tu sabes, ó Deus, que sou Teu!


Dietrich Bonhoeffer
teólogo protestante alemão
1906 - 1945


Wer Bin Ich? 


Quem sou eu? Freqüentemente me dizem
Que saí da confinação da minha cela
De modo calmo, alegre, firme,
Como um cavalheiro da sua mansão.


Quem sou eu? Freqüentemente me dizem
Que falava com meus guardas
De modo livre, amistoso e claro
Como se fossem meus para comandar.

Quem sou eu? Dizem-me também
Que suportei os dias de infortúnio
De modo calmo, sorridente e alegre
Como quem está acostumado a vencer.


Sou, então, realmente tudo aquilo 
que os outros me dizem?
Ou sou apenas aquilo que sei 
acerca de mim mesmo?


Inquieto e saudoso e doente, como ave na gaiola,
Lutando pelo fôlego, como se houvesse mãos apertando minha garganta,
Ansiando por cores, por flores, pelas vozes das aves,
Sedento por palavras de bondade, de boa vizinhança
Conturbado na expectativa de grandes eventos,
Tremendo, impotente, 
por amigos a uma distância infinita,
Cansado e vazio ao orar, ao pensar, ao agir,
Desmaiando, 
e pronto para dizer adeus a tudo isto?

Quem sou eu? Este, ou o outro?
Sou uma pessoa hoje, e outra amanhã?

Sou as duas ao mesmo tempo? 
Um hipócrita diante dos outros,
E diante de mim, um fraco, 
desprezivelmente angustiado?
Ou há alguma coisa ainda em mim 
como exército derrotado,
Fugindo em debanda da vitória já alcançada?

Quem sou eu? 
Estas minhas perguntas zombam de mim na solidão.
Seja quem for eu, 
Tu sabes, ó Deus, que sou Teu!


Dietrich Bonhoeffer foi um grande teólogo protestante alemão, considerado um dos mais relevantes do século XX. Perseguido e aprisionado pelo nazismo, foi enviado a um campo de concentração, onde foi executado, já em fins da Segunda Guerra.

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