... quantas mais?
entre a Cruz e a Páscoa... um olhar desiludido um olhar esperançado |
A Dor e a Ausência daquele que fez toda a diferença na vida daqueles que o seguiam. Quase ninguém mais se lembrava das Suas Palavras que Ele reaveria a vida mais uma vez, não importasse a Morte que o havia levado deles.
Alguns esperançavam-se, mas na distância da quase desesperança. Sim, Ele não estaria mais ali com eles. Lembravam-se das Suas últimas Palavras, remoinham suas lembranças... esvaiam-se desiludidos.
Hoje, vivencio mais uma Páscoa, com sabor amargo do fel da dor e da desesperança ao longo dos 3 dias (ou dos mais de 1.000 dias de quando ela se foi), da ausência e da certeza que a Morte arranca de nós parte de nós mesmos, apesar do lampejo de esperança na [in]certeza de quantas mais Páscoas viverei.
Assisti na 6a.feira o filme Ressurreição no olhar desconfiado do Tribuno Clavius... o olhar de Jesus morto dependurado na maldita Cruz atingiu fundo a sua alma incrédula.
E, vivenciar a experiência de um incrédulo que já não conseguia acreditar nas estórias e nas mentiras que pareciam justificar que o Corpo de Jesus havia sido roubado e escondido. Que transitava entre a incredulidade e a credulidade da [in]certeza do que sempre acreditou ser a certeza.
Na antiguidade quando o povo hebreu seguiu Moisés na esperança de uma Páscoa ainda desconhecida... e, depois nos tempos de Jesus quando seus discípulos e amigos chegados seguiram a esperança de uma Páscoa tão falada mas também ainda desconhecida.
Adentrar-se num Caminho de mão única, que através da Cruz (Morte) espera-se a Páscoa (Ressurreição)... é adentrar-se na [in]certeza da certeza de uma espera[nça] de alguns dias, de alguns meses, de alguns anos... ou de tantas décadas que já quase não se espera mais.
Amar[gar] nesse Caminho que tem o comprimento da Cruz e uma Luz tão forte ao final que nos cega e nem sempre traz a certeza que lá está a Páscoa tão esperada e ainda não vivida ou vivenciada em nossas finitas entranhas.
Caminhar com Esperança é ser desiludido, é não ter mais ilusões... "do contrário, o que você tem não é esperança, é ilusão." - citando texto de Paulo Brabo quando comenta sobre a carta do pessimista Cláudio Oliver.
Esses amigos que a gente encontra pelo Caminho percebem, vivenciam e escrevem aquilo que vai na Alma da gente (como se a vasculhassem e lessem com a clareza de uma lupa)... e, que apesar de um lampejo de Esperança, sabe-se que a desilusão é total, completa... e, vazia - do tamanho da própria Cruz do Cristo.
Há uma Cruz vazia
Há um Túmulo vazio
Há um Mundo vazio
Há também um Coração vazio
E, enquanto espero a Páscoa final e definitiva na Eternidade...
... junto ao Eterno
... junto aos que se foram
... junto aos que irão
... junto à Eterna Gabriela
"...sempre melhor do que mereço, sempre perdido, dependente de esperar, pois esperando, declaro meu pessimismo, e me agarro em algo, que pelo menos, tem mais chance de dar certo, e ressurgir, do que a fé na possibilidade de que aumentar a dose do remédio que nos mata irá nos curar."
Entre a Morte (separação)
e a Ressurreição (reencontro) permeia
... um sentimento de desalento
... um sentimento de abatimento
... um caminhar a um passo do esmorecimento.
A letargia imposta pela separação aguardando o reencontro, num sentimento sem sentido, parecendo que não há mais o que fazer.
"É uma saudade
Que invade
Que arde por dentro
Não há pensamento
Corrente de vento
Que vire esse leme
Pra outro lugar"
Anna Ratto em Desalento